Sobre os primeiros passos

André Dantas
5 min readJun 7, 2020

Antes de ir ao ponto principal eu gostaria de dizer o que esse texto não é. Ele não é um passo a passo do que você deve fazer pra criar um negócio milionário em pouco tempo. Não é uma garantia, de nada. Aliás a única garantia que te dou, é que não é fácil e vai doer, se isso não te desmotivou a ler o texto, segue onde quero chegar.

Isso aqui é sobre os sentimentos relacionados aos primeiros passos, eu falo isso com propriedade porque já dei infinitos primeiros passos, inclusive todos os diagnósticos de personalidade, DISC, etc me disseram que eu sou ótimo em começar projetos e péssimo em acabar. Inclusive recebi muitos feedbacks sobre isso durante minha jornada até aqui. Aliás estou começando um novo, mas isso não vem ao caso, não agora.

O ponto é que estou assumindo minhas dificuldades e resolvi refletir e estudar sobre ela, então vou explanar agora as raízes que nos ,ou pelo menos, me impedem de tirar as ideias do papel. Quem sabe um dia eu conto sobre o resto da jornada. Primeiro, não é sobre as ideias, é sobre executar e estar aberto a ouvir. Segundo, é necessário se conhecer muito bem, porque essa é a lista de sentimentos que você vai ter praticamente todos os dias:

  • Medo
  • Vergonha
  • Raiva
  • Vontade de desistir
  • Desespero
  • Tristeza
  • Sofrimento

Lendo essa lista você deve estar se perguntando onde estão as coisas boas. Correto? Cadê a felicidade? A riqueza? O orgulho? Pois é, eles não fazem necessariamente parte do começo. Provavelmente você terá pequenos momentos de felicidade, mas se você não souber lidar com o medo, com o sofrimento e com a dor, certamente você não estará preparado para dar valor a esses pequenos momentos felizes, que vão passar quase despercebidos em meio ao caos de sentimentos que é tirar seu projeto do papel.

Acho que a melhor pergunta pra fazer agora é: como podemos nos preparar pra isso tudo? Como você se prepara pra sofrer?

Olha só que legal, você já faz isso. Só que você faz isso tão bem que sofre por antecipação e não corre o risco de sofrer menos. Se você conseguisse saber exatamente quanto iria sofrer talvez isso se chamasse de “sofrimento calculado” e não somente sofrimento. Obviamente não da pra calcular o quanto vamos sofrer em uma situação, mas dá pra gente calcular o quanto devemos sofrer por antecipação.

Tem três modelos de pensamento que aprendi recentemente que acredito que cabem aqui e podem te ajudar a calcular o risco e evitar sofrer por antecipação. Controle o que você pode controlar, dica: você não controla uma pandemia, atue no que você pode controlar. Os modelos são: Carteira na Sala (não sei o nome real), Murphy e Barbell.

Carteira na sala: Quando você perde sua carteira na sua casa, você procura ela na casa inteira, primeiro na cozinha, depois no quarto, e etc. Você sabe que a cada lugar adicional que você procura, suas chances de encontrar a carteira aumentam, correto? Afinal se você já olhou em todos os cantos da cozinha, ela só pode estar na sala ou nos quartos. Você não se prende a procurar somente na cozinha, porque sabe que existem outros cômodos na casa. Pois é, agora respira que o paralelo vem forte.

O sucesso é a sua carteira, a casa é o mercado e cada cômodo são as hipóteses a serem validadas. Cada hipótese que você valida você está mais perto de encontrar o sucesso. Existe um porém, aliás dois, você não pode apenas cometer 2 tipos de erro:

  1. O mesmo erro
  2. O erro que vai impedir você de continuar procurando e validando os outros cômodos (uma possível falência, por exemplo)

Você não pode ser dar ao luxo de cometer o mesmo erro, porque isso vem a um custo alto. Além de não te deixar mais próximo do sucesso, aumenta suas chances de ter que parar de testar, e se parar de testar já sabe. Não tem negócio. O outro erro é tomar riscos tão grandes que vão te fazer ficar fora do jogo caso tudo dê errado. E é aqui que entramos no segundo modelo, a Lei de Murphy.

A lei de Murphy, é conhecida por nós mas muitas vezes ela é mal compreendida, pra facilitar, podemos resumir em uma frase: tudo que pode dar errado, vai dar errado. Nós brasileiros, somos otimistas de nascença, então tende a ser difícil pensar que tudo vai dar errado, diria até que é contra intuitivo. Bom, eu estou falando o que aprendi tirando ideias do papel e posso dizer com propriedade, nada sai como o esperado, talvez nem tudo dê errado mas é melhor se preparar.

Seus amigos não vão comprar seu produto, você não vai ter milhares de usuários no seu app e você não vai conseguir escalar seu negócio sem investir nada nele, nem que seja todo seu tempo. Se tudo der errado você aguenta o tranco? Aliás, por quanto tempo tudo pode dar errado até você não aguentar? Por exemplo, se em 12 meses eu não conseguir rentabilizar o meu negócio eu volto a procurar emprego. Porque eu tenho 18 meses de caixa para me manter e acredito que em 6 meses eu consiga achar um emprego, já com uma margem de segurança.

É nesse momento que entra a Barbell Strategy, divulgada amplamente por Nassim Taleb. Barbell é aquela barra de pesos que tem nas academias e ele faz um paralelo interessante. 80% do seu patrimônio tem que estar em um lugar seguro, por exemplo, renda fixa. E 20% dele tem que estar sujeito a riscos tão grandes que se acontecer algum evento específico você terá retornos extraordinários. Eu acredito que dê pra trazer esse conceito do mercado financeiro para o que o que significa tirar as ideias do papel. Talvez uma listinha de to do’s sejam:

  1. Quanto tempo de caixa eu tenho pra me manter caso tudo dê errado. (20% = 6 meses ou mais é o ideal — não passar de 50%)
  2. Se eu precisar voltar pro mercado de trabalho, quem são as pessoas que podem me contratar e preciso manter o contato até ter uma visão mais clara de pra onde estou indo.
  3. Quais pessoas conseguem me ajudar a ser bem sucedido no que estou propondo a fazer? Investidores, amigos do setor, amigos de amigos, seus clientes se já tiver.

Isso tudo deve ser acompanhado de uma coisa que ainda não mencionei, consistência. Todos os dias, sem furar, você tem que estar trabalhando, pensando, desenhando, criando, e ouvindo as pessoas. A jornada é longa, e pode ter certeza que a felicidade faz parte dela também.

Afinal, qual seria a nossa motivação em criar o futuro se já soubéssemos como seria o caminho?

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André Dantas

Eterno curioso. Escrevo sobre os pensamentos que vem na minha cabeça, quando vem, e com os sentimentos que os acompanham.